Presidente da Bial anda pelo país a defender mais investigação ao "ser espiritual". Esta semana esteve na Ordem dos Médicos
O tema é pouco ortodoxo, mas o auditório da Ordem dos Médicos permanece cheio das 21h à meia-noite. Será verdade a transmissão de pensamentos, vidas passadas ou sexto sentido? O protagonista da noite é Luís Portela, presidente da Bial e promotor da investigação na chamada parapsicologia. Em périplo pelo país a apresentar o livro que escreveu após deixar a liderança executiva da farmacêutica, e onde recolhe indícios de todas estas matérias, defende que a ciência tem estudado muito pouco o "ser espiritual". Para Portela, o desinvestimento é razão para o descalabro económico, porque as pessoas não são incentivadas a ter vidas mais harmoniosas e a tirar partido de todas as suas potencialidades. No debate, deixa a sugestão: as escolas deviam ensinar as crianças a usar a força do pensamento, diz.
"A ciência não o explora, mas sabemos que quando concentramos o pensamento temos uma energia produtiva e um livre arbítrio diferentes. Na minha perspectiva, isso também obedecerá a leis universais", diz Portela.
No final, perguntamos se o desafio era a sério. O gestor responde que sim, seja para Portugal, África ou Alemanha. Embora para já só existam indícios dessa energia construtiva, que levaria as pessoas a focarem-se mais no interior que no exterior, diz que há investigadores a tentar prová-lo, com experiências que procuram validar se a mente consegue mover átomos. Ainda assim, explica que o principal desafio que quer deixar nos debates em torno do livro, e há 15 marcados para os próximos dois meses, é a necessidade de haver mais investigação nesta área.
No painel do encontro, terça-feira, estiveram o físico Carlos Fiolhais, o psiquiatra Mário Simões e a psicóloga Rita Bernardino. Simões diz-se simpatizante e não militante do "ser espiritual" evocado por Portela, que tem a convicção de que o homem "é uma partícula de energia de um todo universal onde estão espelhadas as características desse todo." No consultório, o psiquiatra diz que a postura é clara: "Quando uso hipnose e peço para irem à origem de um trauma, tenho doentes que me dizem estar vestidos de romanos. Quando saem do transe perguntam-me se é verdade. Digo que não sei. Não é importante. O que importa é usar a informação", explica. Mas reconhece evidências de vidas passadas em relatos de crianças ou na escolha do Dalai Lama. "Se são provas, não sei", disse, admitindo que simpatiza com as ideias também pela percepção de que nem todos os conhecimentos se obtêm pela razão. "Há a emoção, a sensação e a intuição. À falta de provas racionais, estas dimensões aproximam-nos da verdade."
Perante uma pergunta sobre casos emblemáticos como os de Brian Weiss, nome sonante da parapsicologia que reuniu relatos de vidas passadas, Simões é peremptório: "Conheci Weiss e disse-me que esses relatos são certinhos por exigência das editoras. Mas nem tudo é tão linear", revelou, talvez para descontentamento de alguns. Uma pessoa na plateia descreveu a sua participação numa palestra com Weiss, onde, ao pegar nas chaves de carro de um desconhecido, lhe descreveu um acidente do passado. Com outro espectador a perguntar, afinal, somos "deste lado ou do outro", o debate tornou-se, de vez, diferente dos habituais na Ordem, sobre práticas clínicas ou políticas de saúde.
Para Fiolhais, será difícil algum dia o método científico explicar todas as dimensões do homem e o significado desses indícios. Ainda assim, diz que a posição mais sensata é esperar por novas descobertas. Mas defende que, se a ciência tem estado alheia, não é por falta de curiosidade. "A relação mágica com o mundo é o início de toda a ciência. Newton disse que havia uma força, Einstein uma deformação do espaço-tempo. Einstein dizia que Deus é subtil, mas não malicioso. A harmonia existe mas não é fácil lá chegar." Bernardino, investigadora do ISPA, diz que há provas, mas faltam estudos e debates que lutem contra as costas voltadas da ciência e espiritualidade. Após trabalhar em serviços cirúrgicos, testemunha que é evidente a existência daquilo a que se chama alma, "campo electromagnético além do corpo". Tem sido ligada, diz, às sensações em membros amputados.
No final do debate, o bastonário defendeu que as convicções científicas precisem de dar espaço ao debate de outras ideias a que têm sido avessos, como as experiências mediúnicas de que Portela também fala. Nenhum colega torceu o nariz ao tema, mas reconhece o estigma. "Se não fosse Portela o autor do livro, possivelmente seria alvo de ostracismo." Na medicina, diz que há evidências de que o aprofundamento de uma dimensão espiritual tem impacto no bem-estar e prognóstico e lamenta uma desumanização dos cuidados em função de objectivos de produtividade. Para mais, falta fundamentação científica, considerando que se não há interesse comercial cabe às universidades públicas desbravar terreno.
Estarem abertos a um espiritual não choca com a posição sobre medicinas alternativas? "Sempre defendemos a regulamentação", diz José Manuel Silva. "O que contestamos é chamar medicina a uma terapêutica tradicional chinesa. Também não dizemos que são medicina os actos que fazem parte do nosso legado tradicional, como tratar hemorróidas com sanguessugas."
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O SOL da Vida abençoa-te a cada dia.Que nunca O percas do jeito que O procuras e Que O recebas na Capacidade do Teu Cálice.
Confia como se tudo dependa d'ELE, mas age como se tudo dependa de ti,
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