(é importante que leia esta reflexão porque sobre a mesma parábola muitos são aqueles que condenam e lançam no fogo das trevas o servo que escondeu o talento por medo. Cuidado com a palavra que se escuta e seus pregadores. Não tivesse eu constatado a instabilidade psicológica de muitos que acreditam numa qualquer batina, minha inocência me dizia que a igreja é toda de Cristo. Infelizmente, não é!)
Hoje Jesus oferece-nos esta parábola dos talentos: um senhor que dá a cada um determinado número de talentos para que cada um os faça render, construa uma história, faça deles uma aventura, os multiplique, os some, segundo a sua própria criatividade. Deus investe em cada um de nós, Deus coloca nas nossas mãos a tarefa do ser, a tarefa do construir, a tarefa do habitar. O que é interessante na parábola é este drama entre aqueles que com a sua vida a multiplicam, a tornam fecunda, e aquele que enterra o talento, que é a imagem da própria vida, enterra o seu talento por medo. E nós perguntamos: " O que é que faz render e o que é que bloqueia a vida?" Na justificação que o homem que enterrou o talento dá nós encontramos uma luz muito grande para, muitas vezes, os medos, os entraves, os bloqueios que reconhecemos dentro de nós.
O homem, quando questionado pelo Senhor, diz o seguinte: "Senhor, eu sabia que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e recolhes onde nada lançaste, por isso tive medo e escondi o teu talento na terra."
No fundo, qual é o problema? O que é que faz render ou o que é que desacelera a nossa vida? Tem a ver com esta figura interior que, de certa forma, nos dá ou nos retira a confiança, nos puxa para a frente ou nos tira o tapete interiormente. Este homem tinha interiorizado a imagem do Senhor como a de um homem severo, de um homem intransigente, de um homem implacável que procura recolher onde não lançou e retirar onde não semeou, e teve medo.
Deus não é o juiz julgador, Deus não é o pai severo, Deus não é o Senhor implacável que nos há de pedir contas do que nós pudemos e do que nós não pudemos. Mas Deus é o Deus rico em misericórdia. Cada um de nós precisa desta palavra de confiança, desta palavra fundante de confiança para poder prosperar, para poder ser, para poder também desafiar, ir além de si e além da sua fragilidade para construir uma história de ser.
Cardeal D. José Tolentino Mendonça
(Muitos pregadores da "palavra do senhor" precisam da nossa Misericórdia e de muita Catequese!)
Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus 25, 14-30
Naquele tempo, Jesus contou esta parábola aos seus discípulos: "Um homem que sai de viagem chamou os seus servos e confiou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois talentos, ao terceiro um único talento, a cada um segundo a sua capacidade. Então ele foi embora. Imediatamente, aquele que recebeu os cinco talentos foi negociá-los e ganhou mais cinco. Da mesma forma, quem recebeu dois talentos ganhou mais dois. Mas aquele que recebeu apenas um foi e cavou um buraco na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. Depois de muito tempo, o senhor desses servos voltou e pediu-lhes contas. Chegou aquele que recebeu cinco talentos, apresentou mais cinco talentos e disse: 'Senhor, tu me confiaste cinco talentos; eis que ganhei mais cinco.' O seu senhor lhe disse: 'Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel no pouco, muitas coisas te confiarei; compartilha na alegria do teu Senhor.' Chegou também aquele que recebeu dois talentos e disse: 'Senhor, tu me confiaste dois talentos; eis que ganhei mais dois.' O seu senhor lhe disse: 'Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel no pouco, muitas coisas te confiarei; compartilha na alegria do teu Senhor.' Chegou também aquele que tinha recebido um talento e disse: 'Senhor, eu sabia que és um homem duro: colhes onde não semeaste, recolhes onde não espalhaste o grão. Fiquei com medo e fui esconder o seu talento no chão. Aqui está. Você tem o que é seu.' Seu senhor respondeu: 'Seu servo mau e preguiçoso, você sabia que eu colho onde não semeei, que colho grãos onde não os espalhei. Então você deveria ter colocado meu dinheiro no banco para que quando eu voltasse o pudesse recuperar com juros. Então tire o talento dele e dê-o àquele que tem dez talentos. Pois a quem tem mais será dado e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem será tirado. Quanto a este servo imprestável (inútil/negligente/preguiçoso), lançai-o nas trevas da escuridão exterior; haverá choro e ranger de dentes!'" Palavra do Senhor
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