Nunca fui grande consumidor de canela. Praticamente, só a consumo na famosa sobremesa portuguesa de Arroz Doce. No entanto, a canela tem muitos benefícios para a saúde. De acordo com um estudo recente, a canela, aparentemente, é mais do que apenas um tempero. Segundo o cientista israelita Michael Ovadia, esta erva aromática pode ajudar a combater uma das doenças mais misteriosas da actualidade, Alzheimer, que afecta 18 milhões de pessoas em todo o mundo. Há mais de 50 anos, Ovadia quase foi desclassificado num concurso de conhecimentos de Bíblia ao se esquecer da resposta a uma pergunta: que ingredientes formavam o óleo sagrado usado pelos sacerdotes do Templo Sagrado de Salomão? Á última da hora, lembrou-se da lista, cujo ingrediente mais conhecido é a canela. Acabou por ficar num respeitado segundo lugar, mas o episódio nunca saiu da sua cabeça. Anos depois, já como reputado investigador do departamento de Zoologia da Faculdade de Ciências da Vida da Universidade de Tel Aviv, Ovadia decidiu pesquisar porque motivo os israelitas antigos usavam esse óleo para limpar os artefactos sagrados do Templo e proteger os seus sacerdotes de doenças causadas pelo contacto com sangue devido ao sacrifício de animais. Aos poucos, foi descobrindo que a canela é capaz de neutralizar vários tipos de vírus e infecções. Mas qual não foi a sua surpresa ao ousar pesquisar a eficiência da erva na inibição dos chamados oligómeros: conglomerados de proteína beta-amiloide, abundante no cérebro dos doentes de Alzheimer e acusados de causarem perda de memória em mais de 50% dos idosos com mais de 85 anos. Ovadia liderou um grupo de investigadores formado pelos professores Ehud Gazit, Daniel Segal, Dan Frankel, Anat Frydman Maor e Aviad Levin, e conseguiu extrair uma substância líquida da canela que é capaz de inibir o acúmulo progressivo de agregados neurotóxicos do peptídeo beta-amiloide (A-beta) no cérebro dos indivíduos afectados. E mais do que isso: o grupo descobriu que o extracto de canela também é capaz de dissolver as chamadas fibrilas de beta-amiloides, cujo acúmulo no cérebro mata neurónios em pacientes com Alzheimer. O estudo foi publicado na revista científica PloS ONE em Janeiro e causou tanto impacto que a Universidade de Tel Aviv, que entrou com pedido de patente do extracto de canela, já deu permissão para que uma empresa privada desenvolva e distribua remédios à base de canela. A canela, obtida da parte interna do tronco da caneleira, uma árvore nativa do Sri Lanka, já foi uma das especiarias mais valiosas do mundo. Na Idade Média, o seu valor chegou a superar 15 vezes o do ouro. O motivo era o seu uso não só como tempero saboroso e aroma inconfundível para fins espirituais, mas também pelos seus poderes medicinais. Os seus compostos (acetato de cinamilo, álcool de cinamilo e cinnamaldehyde) unem-se à sua composição mineral (fibra, ferro, cálcio e magnésio) para curar males. Além dos israelitas, outras culturas milenares apontam a canela como um santo remédio. Citações do uso da erva são datadas de 4000 AC . Os egípcios usavam-na para conservar a comida e como analgésico. Os chineses, contra diarreia, gripes, resfriados, indigestão e repelente de mosquistos. Na Índia, os poderes antibactericidas, antioxidantes, anti-inflamatórios e antifúngicos da erva transformaram-na num dos principais compostos medicinais. Mas, até hoje, existem poucas provas científicas de tudo isto. "Um dos poucos estudos concretos quanto ao poder da canela é o que provou que ela inibe a helicobater py lori , a bactéria que causa a úlcera duodenal", conta Michael Ovadia. "Mas muitas civilizações usavam ervas, plantas e outras produtos naturais contra males. O que eles usavam instintivamente, nós começamos a provar cientificamente". Hoje, estudos apontam para os possíveis benefícios do tempero no combate à pressão alta, diabetes, herpes, acne, reumatismo, perda de memória, infecções urinárias e até mesmo alguns tipos de cancer. Funcionaria também como um anticoagulante natural indicado para mulheres grávidas e até mesmo como afrodisíaco.
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